Tipologia e modalidades de saber na Metafísica de Aristóteles
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Tipologia e modalidades de saber na Metafísica de Aristóteles
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Vítor Medeiros Costa
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UFSC
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O presente trabalho tem por escopo os Livros I–II da Metafísica de Aristóteles e discute duas questões. Primeiramente, analisa propostas de formalização de cinco diferentes modos/maneiras de saber em Aristóteles, a saber: (1) por sensação (αἴσθησις), (2) por memória (μνήμη), (3) por experiência (ἐμπειρία), (4) por técnica (τέχνη) e (5) por ciência (ἐπιστήμη). De forma sucinta e intuitiva, aparentemente o modo (1) corresponde ao que às vezes se chama de “saber que/τι”; (2), então corresponderia a “saber quando”; (3) a “saber como ” ou “saber o que/ τὸ ὅτι (em sentido relativo)” (ARISTÓTELES. Metafísica, A, 1, 981ª29); enquanto que (4) tem afinidade com a expressão “saber o porquê”; e (5), além dessa última, também de “saber o que (em sentido absoluto) algo é”, dito de outra forma: “saber o que algo deve ser (portanto, não pode ser de outra forma)”. Segundamente, compara cinco diferentes tipos de saber relativamente a cinco termos em grego para o que chamamos modernamente por “saber”: gnose/gnō̂sis (γνῶσις) — com onze ocorrências nos livros citados —, compreensão/epaḯein (ἐπαΐειν) — uma ocorrência no Livro I —, conhecimento/eidénai (εἰδέναι) — trinta ocorrências nos Livros I–II —, ciência/epistḗmē (ἐπιστήμη) — cerca de 40 ocorrências (há usos adjetivados da expressão, além dos usos substantivados) — e sapiência/sophían (σοφίαν) — cerca de 15 ocorrências (há usos adjetivados da expressão, além dos usos substantivados) —. Seguindo o texto de Aristóteles, é possível mostrar que: os sensitivos — aqueles que possuem saber por (1) e às vezes também (2) — têm apenas gnose dos fenômenos; os empíricos — aqueles que possuem saber por (3) — têm gnose, compreensão e conhecimento dos fenômenos; os técnicos subservientes — que sabem por (4) numa acepção mais fraca — possuem também compreensão e conhecimento dos fenômenos como os empíricos, mas possuem mais gnose que esses; os técnicos dirigentes — que sabem por (4) numa acepção mais forte — possuem tanta gnose e compreensão quanto os demais técnicos, mas possuem mais conhecimento que eles; os cientistas departamentais, em diferentes graus, possuem tudo que os técnicos dirigentes possuem porém, também ciência; e, por fim, o cientista dos primeiros princípios e causas possui tudo que os demais cientistas têm, porém possui mais ciência. Tais afirmações serão demonstradas com as respectivas ocorrências textuais dos termos e comparadas com as propostas de definição dos modos de saber (1)–(5). Com efeito, tal estudo contribui para: (I) a compreensão da relação tempo-saber em Aristóteles, (II) a compreensão da hierarquia de saberes de Aristóteles e da superioridade da ciência dos primeiros princípios, seguidos pelos demais ciências, depois os técnicos dirigentes e os subservientes, e assim por diante (Metafísica, A, 1, 981b30-982ª3).
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Aristóteles
- Dia 24 | Quarta | Sala 9C | 08:30-09:00
- IC 3
- 24/10/2018