17/04/2023

80 anos de O ser e o nada de Jean-Paul Sartre - Colóquio Internacional

VIRTUAL - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE, Fortaleza-CE

O ano de 2023 marca o 80º aniversário da publicação de O ser e o nada de Jean-Paul Sartre. Desde sua publicação, o livro gerou admiração por seu caráter totalizante, assim como pela teoria da liberdade absoluta que ele desenvolveu em meio à ocupação da França pelas forças militares nazistas, e tornou-se a síntese da primeira filosofia de Sartre, desenvolvida desde 1927. Mas sua publicação também foi acompanhada de muitas críticas que apontavam uma suposta má interpretação de Heidegger, uma leitura parcial de Freud e o esquecimento do social e das determinações materiais dos indivíduos, o que teria levado Sartre a desenvolver um existencialismo individualista e burguês.

Para celebrar este evento, é necessário voltar às leituras de O ser e o nada, não só para medir o impacto que sua publicação teve na filosofia, mas também para pensar sobre os novos caminhos que o primeiro momento da filosofia de Sartre abre hoje.

Desde sua publicação em 1943, O ser e o nada marcou gerações inteiras de filósofos e intelectuais, e toda a segunda metade do século XX. Falamos de Badiou, de Derrida, de Foucault, de Rancière ou de Deleuze, cada um deles foi influenciado pela filosofia de Sartre, a tal ponto que Deleuze, com uma filosofia tão distante da de Sartre, poderia mesmo assim dizer que ele “foi meu professor”[1]. É verdade que essa relação com a filosofia de Sartre poderia ter sido uma relação negativa, e vale lembrar as disputas de Sartre com Lévi-Strauss, com Lacan ou, de maneira geral, com os estruturalistas e pós-estruturalistas, razão pela qual, depois de terem ocupado todo o espaço intelectual francês após a Segunda Guerra Mundial, os acontecimentos de Maio de 68 abriram o momento do eclipse da filosofia de Sartre, marcado tanto por uma minimização do existencialismo quanto por uma fenomenologia que se fundamentava na leitura levinasiana de Husserl e Heidegger (muto mais do que na interpretação sartriana de Husserl) como aparece nas obras de Derrida, de Marion ou de Henry.

No entanto, esse eclipse da obra de Sartre chegou ao fim e, por toda parte, as obras de Sartre estão novamente no centro das preocupações de muitos filósofos. É o caso no mundo francófono[2], no mundo hispanófono[3], mas também no mundo anglo-saxão[4] e no mundo lusófono[5], onde as dificuldades que a pós-modernidade enfrenta permite um certo retorno à filosofia de Sartre e produzem novas interpretações dela.


[1] Gilles Deleuze, « Il a été mon maître », in L’île déserte et autres textes, Editions de minuit, Paris, 2002, pp. 109-113.

[2] Jean-Marc Moullie & Jean-Philippe Narboux (dir.), Sartre. L’être et le néant : nouvelles lectures, Les Belles Lettres, Paris, 2015.

[3] Alan Savignano, El problema de los otros en Jean-Paul Sartre: magia, conflicto y generosidad, Sb Editorial, Buenos Aires, 2022.

[4] Mary Edwards, Sartre’s Existencial psychoanalysis: knowing others, Blommsbury, London, 2022.

[5] Fernanda Alt, L’hantologie de Sartre : sur la spectralité dans L’être et le néant, Peeters, Louvain-la-Neuve, 2021.

 

Link: http://www.uece.br/eventos/80serenada