19/07/2022

Colóquio Internacional: Cosmos ? Carne ? Absoluto. No centenário do nascimento de Michel Henry (1922 - 2002)

Universidade Católica Portuguesa ? Porto

COLÓQUIO
Cosmos – Carne – Absoluto.
No centenário do nascimento de Michel Henry (1922 – 2002)

Universidade Católica Portuguesa – Porto
19 e 20 de Julho de 2022

CHAMADA DE TRABALHOS

Neste ano de celebração do centenário do seu nascimento, e de vinte anos do seu falecimento, continua a ter grande sentido e importância a abrangência e profundidade do Seu pensamento. Talvez até seja urgente voltar a olhar com a Sua fecundidade para os nossos tempos.

A receção de Henry ultrapassou, em grande parte, os campos de conhecimento das humanidades. O sucesso de Henry em capturar a atenção de jovens gerações de pesquisadores, em regiões geográficas várias, de linguagem e disciplinas diversas e amplas, é ilustrativa de seu poder para atrair, interpretar e apontar novas respostas para os desafios, ambiguidades e dilemas das sociedades contemporâneas.

A exigência e rigor do Seu trabalho resiste a muitas criticas feitas de modo imediatista e sem profundidade. Mas também é verdade que o diálogo com outros pensadores, que influenciaram Michel Henry ou que se deixaram influenciar por ele, também produz noves perspetivas brilhantes e promissoras.

A presente chamada de trabalhos, inspirados na obra de Michel Henry, visa ser fiel ao que pode ser considerado relevante no seu trabalho, incluindo críticas. Esta parece ser a melhor oportunidade para realizar um debate aberto, inovador e desafiador sobre a pertinência do legado de Henry. Além disso, há um convite explícito para considerar como corpo de pesquisa, não apenas a produção direta de Henry, mas também a produção das diferentes escolas de pensamento e centros de pesquisa de onde têm, ocasionalmente ou sistematicamente, emergido investigações henrianas.
Esta chamada de trabalhos centra-se em duas dimensões principais, a serem tomadas como vias desafiadoras a serem exploradas. A melhor maneira de honrar Henry é ser fiel à sua atitude integra e radical como se posicionou em relação ao seu próprio trabalho.

Da exterioridade do corpo à Carne e ao Absoluto da Vida
Quando o corpo se nos mostra no mundo, deve ao modo de aparecer deste último um certo número de caracteres fenomenológicos, que derivam todos da exterioridade - nunca a sua existência. Assim é necessário reconhecer do conjunto dos corpos que se mostram no mundo - quer se trate do nosso próprio corpo quer de um corpo qualquer - que existem antes desta descoberta e independentemente dela. Quando a vida revela a carne, pelo contrário, ela não se limita a revelá-la como se estivéssemos aí em presença de dois termos, um que revela e outro que é revelado. E é por isso que dizemos que o primeiro não se limita a revelar o segundo, à maneira como o mundo desvela um corpo que não cria. A vida revela a carne engendrando-a, como o que nasce nela, formando-se e edificando-se nela, tirando a sua substância, a sua substância fenomenológica pura, da substância da própria vida. Uma carne impressional e afectiva, cuja impressionalidade e afectividade nunca provêm de outra coisa que não seja a impressionalidade e a afectividade da própria vida. (...) A carne é-o tão-só numa vinda originária a si mesma, que não é obra sua, mas da Vida. (Incarnation §23)

Os trabalhos podem versar: a ciência hoje, a saúde, a realidade social, cultural e histórica, a ciência política; as temáticas da teologia, da literatura, da arte, ou nas áreas espirituais, educacionais, que podem ajudar a extrair a amplificação de horizontes e a ultrapassagem de fronteiras que surgiu dentro e ao redor do trabalho de Michel Henry e explodiu para lá das configurações acadêmicas formais e que encontram em Michel Henry uma outra Luz.

Da palavra do sentimento da ação ao silêncio da ação originária
Damo-nos conta de que o silêncio fenomenológico da nossa praxis viva, na sua efectivação imediata, é irredutível ao mutismo das coisas pelo facto de que, sendo este silêncio o do pathos, ele é difícil de suportar. Ainda que a nossa actividade quotidiana ande ligada ao prazer, nesta naturalidade feliz que caracteriza habitualmente toda a forma de espontaneidade, contudo, nunca é sob o título de actividade, de espontaneidade, de liberdade, de «acto» que devemos descrevê-la. Na medida em que qualquer acção humana traz consigo, como sua possibilidade mais interior, um «eu posso» dado passivamente a si na autodoação patética da vida, é de um sentimento de acção que, a cada momento, se trata. Mas isto seria ainda uma visão superficial de interpretar o prazer que nos proporciona, muitas vezes, o simples facto de agir como uma modalidade do sentimento entre outras possibilidades, tal como a dor ou o sofrimento. Porque a acção de um poder, qualquer que ele seja, pressupõe nele a acção do «eu posso», então é esta capacidade original de poder que deve primeiro exercer-se a partir de si, dobrada sobre si como sobre o seu próprio solo, arrancar-se a esta passividade radical na qual ela é dada na auto doação da vida absoluta. (Incarnation §36)

Os trabalhos podem versar: a Ecologia, os direitos humanos, a ciber-política, a computação digital, a inteligência artificial, a comunicação como manipulação, a promoção da política que mata, os media e as redes sociais, as novas indignidades; todos os contextos da atualidade que são questionados pela obra de Michel Henry e que muito podem ser elucidados pelo Seu pensamento.

Metodologia
Data limite de entrega de trabalhos: 17 de Junho de 2022
Processo de revisão: todas as submissões serão consideradas sob um processo de revisão duplamente cego; a Comissão Organizadora é também a Comissão Científica responsável por gerir o processo de revisão.
Trabalhos originais e recensões: tanto os trabalhos originais, como os ensaios sobre comentários e discussões de trabalhos já publicados, pelos autores ou por outros, que sejam relevantes para a temática do Congresso, são bem-vindos; as propostas podem incluir projetos de pesquisa individuais e coletivos, de investigadores juniores e seniores; estudantes de instituições do ensino secundário e do ensino superior, são bem-vindos para apresentar as suas propostas; intelectuais independentes, que não tenham vínculo a uma instituição específica, são igualmente bem-vindos. O objetivo principal é reconhecer a diversidade de abordagens possíveis e fomentar uma discussão fértil.
Política de publicação: as propostas aceites serão partilhadas com os participantes, no site oficial do Congresso, antes do evento, a fim de permitir a preparação para a discussão; após o evento, versões revistas serão consideradas para publicação em jornais internacionais de acesso aberto, sob uma edição especial, cobrindo parte ou toda a gama de tópicos apresentados.

Idiomas oficiais: Português, Francês, Espanhol e Inglês; submissões e apresentações podem usar qualquer um dos idiomas oficiais; em relação aos textos que não usem a língua portuguesa, é necessário adicionar a tradução para o português do título, do resumo e das palavras-chave. Apresentações: tanto presenciais como apresentações on-line serão aceites, pois o Congresso terá um formato híbrido.
Tipos de apresentações / submissões: formatos longo e curto; ambos formatos incluem um título, um resumo, quatro palavras-chave, o desenvolvimento do texto, conclusões e referências; versões longas, de até 5000 caracteres; e curtas, de até 2000 caracteres.
Estrutura do Programa: os dois eixos propostos ajudarão a organizar o conteúdo do Colóquio; cada dia do Colóquio combinará apresentações curtas e longas, seguidas sempre de algum tempo de debate. O objetivo final é a criação de uma atmosfera aberta e questionadora, que permita envolver todos os participantes interessados.

Contato: fsmagalhaes@ucp.pt