01/09/2025

II Colóquio Internacional Maurice Blanchot

Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba-PR, Brasil. Rua Dr. Faivre, 405 ? 2º Andar

 

O II Colóquio Internacional Maurice Blanchot “O Deslocamento sem lugar do pensamento” | Le déplacement sans place de la pensée, acontecerá entre os dias 1 e 4 de Setembro de 2025 na Universidade Federal do Paraná (UFPR) de maneira presencial e online e reunirá professores, pesquisadores e estudantes nacionais e internacionais em torno da contemporaneidade das questões filosóficas, literárias, e políticas do pensamento de Maurice Blanchot. Propõe-se neste evento um conjunto de conferências e comunicações com o objetivo de promover um diálogo interdisciplinar de nível internacional fortalecendo redes de pesquisa destacando sua influência na filosofia, nas letras e nas artes  bem como fortalecer o intercâmbio filosófico, literário e cultural a partir da obra de Blanchot.   

 

“De onde vem isso, essa potência de desterramento, de destruição ou de mudança, nas primeiras palavras escritas em face do céu, na solidão do céu, palavras por si mesmas sem futuro e sem pretensão: “ele – o mar”? É certamente satisfatório (satisfatório demais) pensar que, pelo simples fato de algo como estas palavras “ele – o mar”, com a exigência que resulta delas e da qual também elas resultam, se escreve, se inscreve em alguma parte a possibilidade de uma transformação radical, nem que seja apenas para uma, ou seja, de sua supressão como existência pessoal. Possibilidade: nada (de) mais.” (Le Pas Au-Delà, 1973, p.8).

O argumento marítimo na obra de Maurice Blanchot sugere e provoca um deslocamento incessante de tudo que se pretende rígido, estável. Em diferentes momentos de sua produção crítica, filosófica e literária, o mar aparece como imagem que se repete mas não se fixa, tampouco permite a estabilidade daqueles que nele mergulham ou a segurança de um porto para aqueles que decidam navegá-lo. O mar? À beira, é orla, não conhece repouso nem contornos definidos; é ponto de contato entre oceano e continente, ponto limiar, como aquele em que pensamento e linguagem se tangenciam fugazmente. Aberto, o mar é exílio da compreensão totalizante, espaço em que a experiência se depara com [transcorre a partir de] seu próprio limite, fazendo-se experiência limítrofe, ou ainda, é o fora para onde a linguagem aponta sem nunca alcançá-lo. Tanto origem como horizonte impossível, dessa exterioridade marítima manifesta-se o neutro, princípio de indeterminação que suspende a dualidade e perturba a linguagem, presença impessoal e deslizante de uma força que, em última instância, conduziria a linguagem ao desaparecimento. Do encontro entre onda e orla, entre fora e neutro, pas e pas, que se tocam num instante fugidio, confundindo-se sem nunca se fundirem – encontro sempre lacunar e incompleto -, surge uma espuma que não pertence nem ao mar nem à terra. Espuma que conduz ao limite, à borda sem borda interior à toda transgressão, que não se deixa apropriar por nenhum sistema dialético.

O mar, na obra de Blanchot, é essa metáfora infinita, nem símbolo, nem alegoria, apenas imagem. Espaço avesso ao espaço, porque deslocamento e indeterminação; geografia ausente na qual oscilam leitura e escrita, na qual testemunha-se e experimenta-se “entre duas orlas, como entre duas línguas, a partilha invisível mas também o abismo de um oceano”. Em Thomas l’Obscur (1941, 1950), o mar não é travessia, mas atravessamento: logo no início da narrativa, esse entre-lugar indecidível do elemento água não só nos conduz mas também nos atrai em sua força de reviravolta. Assim, uma simples abertura como “Thomas se senta e olha o mar.” (1950, p. 9, tradução nossa) nos desloca à incertitude ambígua da personagem frente à imensidão, como a de alguém que, prestes a mergulhar nas palavras e nas mutações que elas vão operar no pensamento, põe-se diante da folha em branco e escreve, aproxima-se de um significado apenas para vê-lo esvaziar-se em seguida, corre o risco de afogar-se ou até mesmo de constatar que nunca houve água. Nesse récit, a recorrência de certos elementos narrativos dá forma a uma repetição espectral em meio ao descentramento da “protagonista”, são espumas que se dissolvem no mesmo instante em que aparecem, rastros-testemunhas do estado metamórfico, da coincidência impossível entre Thomas e a água em que se perde. 


Quais questões o pensamento de Maurice Blanchot continua a iluminar ao preservar, em sua errância e opacidade, o mar que o anima? De que maneiras esse pensamento nos mobiliza em seu deslocamento, fazendo (re)aparecer aquilo que só a força negativa de outro nome, um que assenhora-se de sua negatividade, pode conter como possibilidade, ou ainda, acontecimento? 

Convidamos pesquisadores e pesquisadoras brasileiros e estrangeiros a participarem do II Colóquio Internacional Maurice Blanchot com comunicações em que compareça a exigência da recusa própria a este mar marcado pelo movimento de dizer novamente, dizer de outro modo, dizer ainda.

 

Submissão de resumos até 31/05

Inscrições: https://coloquioblanchot.wordpress.com/

Contato: https://www.instagram.com/blanchotcoloquio/

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