02/10/2019

VII JORNADA INTERDISCIPLINAR DE FILOSOFIA - JINTERFIL

GRAJAU, MARANHÃO - BRASIL

PENSAMENTOS POLÍTICOS CONTEMPORÂNEOS: utopias, distopias e heterotopias

INSTITUIÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

E-mail de Contato do Evento

jinterfil@gmail.com

Descrição Resumida

 A VII Jornada Interdisciplinar de Filosofia (JINTERFIL), enquanto um projeto da área de Filosofia do Curso de Licenciatura em Ciências Humanas (UFMA – MA), com sede no Campus de Grajaú (MA) com o título Pensamentos Políticos Contemporâneos: Utopias, Distopias e Heterotopias visa a contribuir para a formação continuada (saberes pedagógicos e epistemológicos) dos docentes e discentes das redes pública e privada da grande área das Ciências Humanas. Objetiva, ainda, debater o cenário educacional e sociopolítico do Brasil e, de modo específico do Maranhão, que atualmente passa por profundas mudanças no sentido do aperfeiçoamento de suas práticas perante a efetivação de uma agenda política de cunho afirmativo. Nesse sentido, e como corolário de uma forma de gestão atinente ao contexto sociopolítico nacional e maranhense, todas as esferas da vida prática são afetadas. A educação não está à margem desse processo, ao contrário, ela não se apresenta apenas como um direito social fundamental para um povo – e mais particularmente ao nosso povo maranhense – mas, e sobretudo, torna-se condição constitutiva para a construção de uma sociedade melhor.

A VII JINTERFIL, tendo como uma de suas marcas pensar a realidade atual, propõe o tema Pensamentos Políticos Contemporâneos: Utopias, Distopias e Heterotopias tendo como fito proporcionar ouvir o maior número possível de vozes, teorias e práticas no intuito de contribuir na fundamentação de um pensamento emancipatório e plural. O momento político atual do Brasil e do mundo nos obriga a resgatar e ressignificar três conceitos fundamentais e indispensáveis da Filosofia para pensar a existência e a realidade, a saber: utopias, distopias e heterotopias. O conceito de utopia é o mais antigo dos três, embora já se possa falar em utopia desde a Grécia antiga, seja com o livro A República de Platão, seja na obra Os trabalhos e os dias de Hesíodo, o termo utopia como uso corrente tem seu início com Thomas Morus em sua obra A Utopia de 1516. Convencionou-se a utilizar o termo utopia para designar o lugar que não existe, ou um sonho, um devaneio. Este termo está associado à ideia de um não-lugar melhor, tal como a imagem do que fora a Idade do Ouro, tempo de paz, justiça, igualdades entre todos e todas, de abundância de alimentos e recursos, em suma, de felicidade geral.

As ideias utópicas movimentaram as aspirações sociais e políticas em todas as áreas. Na Filosofia sua ressonância é maior e fundamenta pensamentos políticos que buscaram a superação da situação presente daqueles que se lançaram a ir além, no futuro, para reorganizar as formas de relação da sociedade em vista de um mundo melhor. Essas reflexões, que em muitos casos não encontraram ainda sua realização na história concreta da humanidade, nos servem de estímulos para continuarmos pensando uma sociedade ideal capaz de proporcionar a emancipação de todos e todas, e de realizar conceitos abstratos como liberdade, igualdade e fraternidade na vida cotidiana.

Entre os pensadores utópicos podemos incluir além de Thomas Morus, o filósofo francês Jean-Jaques Rousseau e o filósofo Inglês Thomas Hobbes como pensadores políticos modernos que pensaram de forma utópica a sociedade. Outros nomes do pensamento utópico foram os franceses Saint-Simon e Charles Fourier, e o galês Robert Owen. Estes últimos pensaram formas sociais para além da realidade pautada pelo capitalismo e das formas jurídicas que sustentam o Estado de direito burguês, e lançaram bases importantes para os pensadores alemães Karl Marx e Friedrich Engels que propuseram uma virada importante no pensamento utópico. Se antes a utopia estava ligada às formas de pensar, com estes dois últimos filósofos ela passa a ter conotações práticas. Ou seja, há uma convocação à transformação do mundo e de suas relações pela práxis humana, em suma, uma transição do socialismo utópico para o socialismo científico.

Entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX, com suas transformações tecnológicas e industriais, somadas às duas grandes guerras mundiais e às diversas revoluções pelo mundo, o pensamento utópico, a possibilidade de um mundo melhor para se viver entra em crise. Neste contexto nasce a distopia. Este conceito que tem seu ápice principalmente na literatura traz em seu seio o sentido de lugar ruim. É a forma negativa pela qual se caracteriza aquele ideal que se pretende alcançar como se fosse o melhor dos mundos possíveis. É a forma negativa do lugar para onde se caminha e como se caminha, em outras palavras, ela está ligada diretamente à descrença na ideia de progresso do Iluminismo ocidental. Dois dos principais representantes desse pensamento na literatura são Aldous Huxley (1932), e George Orwell (1949), com suas obras Admirável Mundo Novo 1984, respectivamente, em suas criticas as ditaduras políticas.

As promessas do progresso surgidas com a Revolução Francesa, o pensamento iluminista e a Revolução Industrial, não se realizaram. Ao contrário, muitos dos projetos tornaram-se verdadeiros pesadelos para humanidade. Exemplos disso são: o nazismo de Hitler, na Alemanha, símbolo da maior distopia do século XX; o fascismo de Mussolini na Itália e a ditadura de Stalin na antiga União Soviética. Nas formas políticas e sociais, o surgimento dos totalitarismos impulsionou uma descrença geral na ideia de progresso e de racionalidade, ocasionando grandes transtornos psíquicos na sociedade. Diante dos horrores presenciados no mundo na primeira metade do século XX o pensamento racional, que sustentava a ideia de progresso, foi posto em xeque por alguns intelectuais, entre eles se destacam Hannah Arendt, Hans Jonas, Isaiah Berlin, Karl Popper e Max Horkheimer que colocam sob suspeita o pensamento utópico político, por ter se degenerado nos totalitarismo aniquiladores de toda alteridade.

O terceiro conceito, heterotopia, é mais recente e tem no filósofo Michel Foucault a principal representação teórica. Ele diferencia os espaços das utopias dos espaços das heterotopias. Na obra As palavras e as coisas define: "As utopias consolam: é que, se elas não têm lugar real, desabrocham, contudo, num espaço maravilhoso e liso; abrem cidades com vastas avenidas, jardins bem plantados, regiões fáceis, ainda que o acesso a elas seja quimérico. As heterotopias inquietam, sem dúvida porque solapam secretamente a linguagem, porque impedem de nomear isto e aquilo, porque fracionam os nomes comuns ou os emaranham, porque arruínam de antemão a “sintaxe”, e não somente aquela que constrói as frases — aquela, menos manifesta, que autoriza “manter juntos” (ao lado e em frente umas das outras) as palavras e as coisas. Eis por que as utopias permitem as fábulas e os discursos: situam-se na linha reta da linguagem, na dimensão fundamental da fábula; as heterotopias (encontradas tão frequentemente em Borges) dessecam o propósito, estancam as palavras nelas próprias, contestam, desde a raiz, toda possibilidade de gramática; desfazem os mitos e imprimem esterilidade ao lirismo das frases." 

Temos em Foucault uma nova categoria que no pensamento e na prática política proporcionou um deslocamento sobre o ideal de sociedade. Ao contrário do pensamento utópico, o pensamento heterotópico não planeja uma felicidade universal. As heterotopias se deslocam no plano da linguagem e existem na realidade onde ocorre o próprio discurso do melhor em face à existência ruim.  A heterotopia existe justamente como espaços outros desde as relações de poder bem localizadas, concretas e reais. Estes espaços outros onde as utopias poderiam se realizar são realidades difíceis de se nomear com uma gramática própria.

Em sua conferência intitulada De espaços outros proferida no cercle d’Études architecturales em 14 de março de 1967, Foucault retomará esse conceito para voltar a afirmar que as heterotopias são utopias realizadas em espaços outros como, por exemplo, feiras populares: “Assim são as feiras, essas maravilhosas alocações vazias nos limites das cidades, que se povoam, uma ou duas vezes por ano, de barracas, de estandes, de objetos heteróclitos, de lutadores, de mulheres-serpente, de videntes”. Além das feiras, incluem-se como espaços outros as festas, jardins, colônias de férias entre outros. Ao fazer sua crítica à utopia, Foucault estabelece uma nova forma de pensar a realidade a partir de uma utopia realizada.

É em face ao exposto que A JINTERFIL busca no diálogo interdisciplinar ler e repensar a realidade concreta em vista de possíveis caminhos para a emancipação humana, a partir do legado teórico e prático das três formas de pensamentos acima: utópico, distópico e heterotópico, respeitando os espaços outros construídos pelos movimentos sociais em suas diversas fronteiras de gênero, diversidade, etnia, territórios etc.

Sendo o palco de atuação o interior do Maranhão, a VII JINTERFIL está comprometida com o contexto educacional nacional e maranhense. Assim sendo, no intuito de aperfeiçoar a reflexão filosófica orientada à emancipação, propõe para o público em geral, bem como para docentes e discentes das redes pública e privada do Ensino Médio, possibilidades de se pensar e agir a partir do diálogo interdisciplinar perpassados pelos três conceitos-temas da Jornada.

Pelo seu caráter interdisciplinar, a VII JINTERFIL é de extrema relevância não somente aqueles(as) que trabalham com o ensino da Filosofia bem como aos demais profissionais, pesquisadores e estudantes das Ciências Humanas e Naturais na medida em que auxilia no processo de formação tanto docente quanto discente. Acrescente-se que a Jornada tornou-se, também, espaço de formação popular com a constante participação de membros de movimentos político-sociais, religiosos e artístico-culturais.

Nesse sentido, o labor dos docentes da UFMA, empenhados na JINTERFIL já apresenta alguns resultados práticos, a saber: a criação de curso na modalidade pós-graduação latu sensu (Especialização) de Filosofia no Campus de Pinheiro; a formação de Grupos de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares; diversas publicações como artigos, capítulos de livros, organização de livros e livros autorais; e um Doutorado Interinstitucional em Filosofia estabelecido por meio da parceria UERJ-UFMA que conta com o apoio da FAPEMA e da CAPES. O apoio e o intercâmbio com docentes de outras Instituições de Ensino Superior do Estado e em âmbito nacional também é digno de nota e elemento importante em toda essa construção, vez que dá visibilidade à produção acadêmica maranhense. Com isto, contribuímos para o desenvolvimento deste Estado, o qual, apesar dos avanços mediante os programas sociopolíticos tais como os anteriormente citados, ainda lutamos para a plenificação das condições de existência social do nosso povo. Por fim, a VII JINTERFIL também se constituirá como um ato de enfrentamento e afirmação da Filosofia e das Ciências Humanas frente aos ataques e tentativa de desqualificação sofrida por estas nos últimos meses por parte do Governo Federal. Nestes termos, contamos com o apoio da FAPEMA para a realização da VII JINTERFIL para continuarmos promovendo este importante evento itinerante exclusivo do interior do Maranhão e vetor de profícuos diálogos interdisciplinares. 

TARDE

 

14H00 - MINICURSO 1: Prof. Dr. José Henrique Sousa Assai - O “Social” como mediação para pesquisa nas Ciências Humanas.

14H00 - MINICURSO 2: Prof. Me. Nertan Dias Silva Maia - Estética e Política em Friedrich Schiller

14H00 - MINICURSO 3: Prof. Me. Clever Luiz Fernandes - Afinidades anarquistas na Filosofia deleuziana

14H00 - MINICURSO 4: Profª. Me. Maria Do Socorro Gonçalves Da Costa - Jean-Jaques Rousseau: uma introdução

14H00 - MINICURSO 5: Prof. Dr. João Caetano Linhares - Espaço Hermenêutico e a questão da experiência da liberdade em Günter Figal

14H00 - MINICURSO 6: Prof. Dr. Rubenil Da Silva Oliveira - Filosofia e homoafetividades: do discurso platônico ao contemporâneo

 

17H30 - MESA DE ABERTURA DA VI JINTERFIL: Prof. Dr. Ricardo Nascimento Fabbrini, Prof. Dr. José Henrique Sousa Assai

 

 

DIA 03/10/2019

MANHÃ

09H00 - PROGRAMAÇÃO PARA O ENSINO MÉDIO: Prof. Me. Francisco Vale Lima - PAINEL FILOSÓFICO E PALESTRA 

09H00APRESENTAÇÕES DE TRABALHOSApresentação Oral

 

TARDE

14H00 - PROGRAMAÇÃO PARA O ENSINO MÉDIO: Profª. Me. Edna Selma David Silva - PAINEL FILOSÓFICO E PALESTRA 

14H00 - MINICURSO 7: Prof. Thiago Diniz Santos - Mitologia e religião no filósofo brasileiro Vicente Ferreira da Silva

14H00 - MINICURSO 8: Profa. Dra. Camila Rodrigues Jourdan - 2013: Memórias e resistências

14H00 - MINICURSO 9: Prof. Dr. Ricardo Nascimento Fabbrini - Morte da arte depois das vanguardas

14H00 - MINICURSO 10: Profª. Drª. Mônica Ribeiro De Moraes Almeida - As questões indígenas no Maranhão

14H00 - MINICURSO 11: Prof. Dr. Flávio Luiz De Castro Freitas - A questão política em O Anti-Édipo

14H00 - MINICURSO 12: Profa. Dra. Hellen Maria De Oliveira Lopes - Totalitarismo e a banalidade do mal em Hannah Arendt

14H00 - MINICURSO 13: Prof. Me. Rosenverck Estrela Santos - História da África e o seu ensino

14H00 - MINICURSO 14: Profª. Ma. Claudimar Alves Durans - Feminismos na Literatura Negra

14H00 - MINICURSO 15: Profa. Ma. Karla Cristhina Soares Sousa - Feminismos e Filosofia: Wollstonecraft e Judith Buttler

17H00 - LANÇAMENTOS DE LIVROS

 

17H30 - MESA REDONDA: PENSAR A(S) POLÍTICA(S) EM TEMPOS DISTORCIDOS - Prof. Dr. Fábio Abreu Dos Passos; Profa. Dra. Janayna Silva Cavalcante De Lima

 

NOITE

19H30 - PROGRAMAÇÃO CULTURAL: Apresentação Artística

 

 

DIA 04/10/2019

MANHÃ

09H00 - APRESENTAÇÕES DE TRABALHOS: Apresentação Oral

 

TARDE

14H00 - MESA-REDONDA 1: UTOPIAS DOS CORPOS E OS DIREITOS DE IDENTIDADE - Profª. Drª. Franciele Monique Scopetc Dos Santos, Prof. Dr. Rubenil Da Silva Oliveita

15H00 - MESA-REDONDA 2: MOVIMENTOS SOCIAIS E AS UTOPIAS DE NOSSO TEMPO - Prof. Dr. Saulo Barros Da Costa, Pastoral Da Terra E Movimentos Sociais

16H00 - MESA-REDONDA 3: AS DISTOPIAS DA EDUCAÇÃO NO BRASIL ATUAL: AS CIÊNCIAS HUMANAS NO CENTRO DE UM DEBATE - Profª. Drª. Cacilda Rodrigues Cavalcante, Prof. Me. Luis Magno Veras Oliveira

 

17H00 - MESA DE ENCERRAMENTO: UMA ABORDAGEM ANARQUISTA DA FALÊNCIA DA REPRESENTAÇÃO - Profa. Dra. Camila Rodrigues