03/02/2023

Call for papers - Dossiê "Dilthey e Heidegger: confluências hermenêuticas"

UNIOESTE - Revista Aoristo

Chamada de trabalhos [CALL FOR PAPERS] – Vol. 7 (2024)

Dossiê “Dilthey e Heidegger: confluências hermenêuticas”

Org.: Deborah Moreira Guimarães (UERJ) e Luís Gabriel Provinciatto (PUC/Campinas)

Submissões até 30 de setembro de 2023

 

A revista Aoristo: International Journal of Phenomenology, Hermeneutics and Metaphysics divulga a chamada de trabalhos para selecionar artigos inéditos, resenhas e traduções para o próximo número.

As obras de Wilhelm Dilthey (1833-1911) integram, reconhecidamente, aqueles inúmeros projetos filosóficos que buscaram uma fundamentação para o conhecimento, situando-se, por um lado, à esteira do projeto crítico de Kant e, por outro, à esteira da historicização das categorias kantianas levada a cabo por Hegel. Em suma, trata-se de um projeto que pretendeu estabelecer fundamentalmente uma crítica da razão histórica, a qual pressupõe a conciliação entre a historicidade elementar do existir e o caráter compreensivo da vida, ou seja, a crítica diltheyana pressupõe uma razão que se funda na história, assumindo como ponto de partida a própria vida e as dimensões compreensiva e expressiva que a constituem. Isso aponta, indubitavelmente, para a relação entre vivência, expressão e compreensão, característica própria da tradição hermenêutica, na qual Dilthey se situa, porém, não no sentido de apenas procurar estabelecer uma doutrina geral para leitura de textos históricos, mas no de entender que a hermenêutica é o modo de trabalho específico das ciências humanas (Geisteswissenschaften). 

À base do projeto filosófico de Dilthey se encontra a tentativa de apreensão e compreensão da própria vida humana, como o próprio autor dá a ver em A construção do mundo histórico nas ciências humanas: “a suma conceitual daquilo que emerge para nós no vivenciar e no compreender é a vida como uma conexão que abrange o gênero humana. Ao nos defrontarmos agora com esse grande fato – que, para nós, não é apenas o ponto de partida das ciências humanas, mas também o da filosofia –, é preciso retornar a um momento anterior à elaboração científica desse fato e apreender o fato mesmo em seu estado bruto”. 

De fato, seus contributos para a consolidação das ciências humanas e para a hermenêutica filosófica o posicionam como um dos grandes filósofos do século XIX. No âmbito da História da Filosofia ocidental, podemos reconhecer inúmeros diálogos convergentes, mas a presença de Dilthey e o impacto de sua hermenêutica histórica para a construção e consolidação da Filosofia Contemporânea ainda é um tema pouco esmiuçado no Brasil. 

Ao mesmo tempo, é notável a importância de Dilthey para Martin Heidegger (1889-1976), como reconhece o próprio autor em um texto de caráter autobiográfico intitulado Um olhar retrospectivo sobre o caminho: “a real iniciação no procedimento da ‘fenomenologia de Husserl […] permaneceu desde o início sem qualquer concordância; o caminho próprio me levou a uma meditação sobre a história – confrontação com Dilthey e o estabelecimento da vida como realidade efetiva fundamental”. Essa influência se mostra, sobretudo, na transformação hermenêutica da fenomenologia levada a cabo por Heidegger, para quem a concepção de hermenêutica, como bem sabido, não diz respeito à doutrina de interpretação de textos históricos, mas ao modo como a vida, em sua facticidade, deixa-se conhecer imediatamente a si mesma, o que faz da vida fática o fenômeno originário da investigação fenomenológica. Para Heidegger, então, a fenomenologia terá como um de seus eixos centrais a ideia de vida fática, partindo do modo como esta se dá a conhecer (se compreende) a si mesma, o que conduz à singular importância da situação hermenêutica. 

A confluência entre a proposta de Dilthey e a de Heidegger torna-se inegável. Dessa forma, o dossiê Dilthey e Heidegger: confluências hermenêuticas tem em vista acentuar, sobretudo, dois aspectos constitutivos da relação entre esses dois filósofos e sua relevância para o pensamento contemporâneo: (1) a contribuição de Dilthey no contexto da origem da filosofia e do pensamento contemporâneo, uma vez que suas contribuições repercutem não só na hermenêutica filosófica, mas em diversas áreas das ciências humanas; e (2) o caráter hermenêutico da fenomenologia heideggeriana e, por correlação, a virada hermenêutica da fenomenologia.

Nesse sentido, convidamos pesquisadores e pesquisadoras a enviar contribuições acerca das confluências entre Dilthey e Heidegger, de suas possíveis continuidades e/ou rupturas e, principalmente, contribuições acerca de seus projetos filosóficos, ambos de caráter evidentemente hermenêutico. Portanto, serão acolhidos artigos que visem: 1) reconstruir pontos de diálogo e confluência entre Dilthey e Heidegger; 2) trazer contribuições inéditas e originais sobre a virada hermenêutica da fenomenologia; 3) explorar o impacto da crítica da razão histórica no pensamento de Heidegger; 4) acentuar a relevância do pensamento diltheyano e sua repercussão na filosofia heideggeriana; e 5) identificar e problematizar pontos de divergência entre Dilthey e Heidegger.

 

Aceitaremos submissões em português, espanhol, alemão, inglês, francês e italiano.

Artigos são exclusivos para doutores (mestres/doutorandos podem publicar em coautoria com doutores).

Para mais informações, acesse:

https://e-revista.unioeste.br/index.php/aoristo/about/submissions

Link: https://e-revista.unioeste.br/index.php/aoristo