22/07/2019

Call of papers - Dossiê Feminismo da Revista Ekstasis

Call of Papers/ Chamada de trabalhos

A Revista Ekstasis divulga a chamada de trabalhos para selecionar artigos, resenhas e traduções para o Dossiê Feminismos

Vol. 8 - n.2 (2019) - submissões até 15/11/2019

Org. Juliana Lira Sampaio e Rebeca Furtado de Melo

A história da resistência feminista organizada é um campo de disputa, cujos eixos centrais mobilizam as categorias de gênero, raça/etnia, sexualidade, classe e território. No dossiê “Gênero e Conhecimento: Saberes localizados e poder”, da revista Em Construção publicado em 2019, se apresentou um panorama da problematização da relação entre as questões de gênero e a produção de conhecimento. No atual dossiê da revista Ekstasis, queremos reunir textos que discutam de que modo as diversas correntes do feminismo, e mesmo suas recusas, decorrem da assunção de uma posição hermenêutica específica que baliza as possibilidades  e comportamentos do ser mulher e de outros corpos não normativos, isto é, corpos não cisheterobranco masculinistas que envolvem o reconhecimento e articulação dos problemas considerados fundamentais para cada uma das muitas possibilidades dos feminismos. Quer dizer: cada uma dessas possibilidades de compreensão de si e concepção do feminismo está localizada numa cosmopercepção do real que orienta a perspectiva a partir da qual surgem tantos os problemas quanto a criação de um manancial teórico-conceitual para abordá-los. Essa cosmopercepção, por sua vez, se articula com um tecido social complexo, perpassado por reiterações e contrareiterações discursivas, que constituem a base de uma ontologia material agonística.

Assumimos aqui que não existe uma definição universal, essencialista ou não, do que seja a mulher, mas, ao contrário, que a diversidade da experiência vivida do ser mulher está permeada por muitas variáveis que determinam fundamentalmente tanto as possibilidades de si, quanto a relação com xs demais, incluindo as violências a que se está exposta, demandas existenciais e estratégias de resistência. Aprendemos com o discurso e com a luta de feministas contra-hegemônicas que estarmos atentas a essa pluralidade das formas de ser mulher e dos feminismos é fundamental para não repetir as violências, os silenciamentos e a objetificação de outras mulheres, tal como o patriarcado exerceu sobre nós. Neste sentido, para se pensar o feminismo não é suficiente uma fenomenologia do ser mulher, na medida em que não há “a mulher”, mas mulheres. Propomos uma espécie de hermenêutica do lugar de fala, isto é, o compromisso metodológico de questionar as estruturas que tornam possível a experiência vivida de si mesmo, o horizonte de sentido que delimita e abre as possibilidades do que somos, como nos reconhecemos enquanto mulheres, como vivenciamos nossa corporalidade em relação a nós mesmas e axs demais, como experimentamos opressões específicas em nossos corpos e na formação de nossas subjetividades, assim como criamos práticas de resistência e formas de luta, coletivas e individuais, articuladas ou não discursivo-teoricamente em vertentes do feminismo. 

Desta maneira, defendemos uma hermenêutica expandida para além da análise de um pretenso horizonte histórico ou dos fundamentos epocais da contemporaneidade, pois reconhecemos que não há uma história única, mas tensões narrativas em disputa, que perpassam as diferentes aberturas de horizonte de compreensão de si, do mundo e dxs demais em todas as nossas relações. Para tanto, precisamos de uma hermenêutica capaz de abarcar a situabilidade radical que funda a diversidade do ser mulher e, assim, dos feminismos, cujas correntes são tão amplas e fundadas em experiências existenciais e posições teórico-conceituais plurais, que envolvem a participação na pauta, na luta e em sua composição de outras corporalidades não hegemônicas; uma hermenêutica topológica, comprometida com a espacialidade específica que ocupamos e a partir da qual, somos. Lugar de fala aqui, portanto, é compreendido como a abertura de horizonte existencial que delimita nossas possibilidades normativas de existência, comportamentos e discursividade, mas que também posiciona nossas subversões do mundo, nossas singularidades e formas de resistência. 

 

O atual dossiê “Feminismos” parte dos pressupostos explicitados no dossiê  “Gênero e Conhecimento: Saberes localizados e poder” ao entender que as ciências não podem reivindicar um ideal de racionalidade pura, universal e neutra, devendo assumir, por consequência necessária, que toda práxis teórico-política encontra-se enraizada numa abertura específica e localizada do real, a cada vez em jogo e em disputa. Assim, se antes queríamos repensar, a partir da crítica feminista, as bases em que o conhecimento foi construído a fim de compreender a produção dinâmica das diversas formas de saberes, bem como seus pressupostos e implicações, agora queremos observar como os feminismos, eles mesmos, são perpassados por uma geopolítica dos corpos, instanciada nos modos específicos de relação consigo e com mundo, como o cuidado de si e de outrxs, a própria compreensão da natureza e possíveis formas de relação com as demais formas de vida. Nesta medida, o presente dossiê  “Feminismos” espera receber trabalhos (artigos, resenhas, traduções e relatos de experiência) sobre questões que ampliem o debate sobre as correntes feministas e seus respectivos repertórios conceituais bem como suas tensões, possibilidades de diálogo e solidariedade.

Normas: As submissões devem ser feitas através do cadastramento no seguinte link:

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Após o registro, o/a autor/a deve seguir um processo em cinco etapas, conforme as instruções contidas no site. Artigos com coautoria podem ser enviados por um/a único/a autor/a cadastrado na revista, desde que sejam informados os dados dos/as coautores/as durante o processo de submissão. Todos os artigos submetidos à apreciação do Conselho Editorial serão avaliados por pares às cegas (double blind peer review). As orientações aos/às autores/as podem ser consultadas em:

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