24/04/2023

Dossiê Poesia e filosofia: a atualidade do primeiro romantismo alemão

A Aletria: Revista de Estudos de Literatura (Qualis CAPES A3), mantida pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da Faculdade de Letras da UFMG desde 1993, tem como missão fomentar a produção acadêmica sobre Estudos Literários e Culturais, permitindo a pesquisadores do Brasil e do exterior divulgarem suas pesquisas e contribuírem para o debate na área. Nesse sentido, encontra-se aberto a chamada para submissão de trabalhos que contemplem a atualidade do primeiro romantismo alemão. 

Mais de dois séculos nos separam do nascimento do Romantismo, ainda no final do século XVIII, entre os alemães, mas sua atualidade teórica e estética permanece, tanto como parte canônica da modernidade quanto como parte da crítica que ainda nos faz interrogar essa mesma modernidade. Entre as muitas vertentes e leituras possíveis desse movimento, aquela que aponta para a aproximação recíproca (Wechselwirkung) entre poesia e filosofia é das mais frutíferas. Conceitos primeiro-românticos como nova mitologia, filosofia da filologia, crítica, modernidade, absoluto, poesia da poesia, ironia, entre outros, ou mesmo as figuras do poeta filosofante e do filósofo poetizante perpassam escritos e ensaios de Friedrich Schlegel, Novalis e de outros pensadores do Romantismo. 

No século XVIII, a reivindicação de um estatuto de autonomia para a arte surge como projeto de uma época que suspeita da própria capacidade de se fazer entender. O fracasso da comunicação verbal consolida-se como um problema propriamente filosófico no romantismo alemão – Friedrich Schlegel dedica-lhe até mesmo um ensaio, Sobre a Incompreensibilidade. Eis por que, para os românticos alemães, a poesia não era apenas o objeto da filosofia, mas, como afirma Armin Erlinghagen (2012, p. 8), “o próprio pensamento poetológico enquanto o medium da reflexão filosófica”1 – o que indica que para expressar o inexprimível a filosofia precisava adentrar o terreno da poesia, abarcando sua natureza poética.

Repensando autores da filosofia, desde Platão e Aristóteles até seus contemporâneos Kant e Fichte, os românticos deram relevância inédita à poesia e à literatura. Isso fez deles também, depois, assunto central para autores como Walter Benjamin, Phillipe Laucoe-Labarthe, Jean-Luc Nancy ou Maurice Blanchot. Além disso, autores como Shakespeare e Goethe tiveram sua recepção marcada pelo Romantismo, que assim se coloca entre a história da filosofia e da literatura. Por fim, os próprios experimentos românticos mostraram-se decisivos para as experimentações estético-filosóficas que irão desaguar nas vanguardas em geral e até no modernismo – e se farão sentir por isso, no Brasil, do movimento antropofágico ao tropicalismo. 

Esse número da Revista Aletria busca fomentar a discussão sobre a aproximação entre filosofia e poesia no primeiro romantismo alemão. Buscam-se artigos que versem sobre os temas acima elencados, entre outros que envolvam o legado do primeiro romantismo alemão até hoje. Nesse sentido, o objetivo do dossiê é pensar o primeiro romantismo alemão e sua recepção, debatendo seu legado e sua atualidade para a época contemporânea.

Organizadores: Prof. Dr. Constantino Luz de Medeiros (UFMG), Prof. Dr. Pedro Duarte (PUC RIO), Prof. Dr. Guilherme Fóscolo (Universidade Federal do Sul da Bahia)

Prazo para submissão: 05 de junho de 2023
 

1 “Die Poesie ist nicht nur Gegenstand der Philosophie, das poetologische Denken ist immer auch Medium philosophischer Reflektion”. ERLINGHAGEN, Armin. Das Universum der Poesie. Prolegomena zu Friedrich Schlegels Poetik. Paderborn: Ferdinand Schöningh, 2012, p. VIII.

Link: https://periodicos.ufmg.br/index.php/aletria/announcement