Tradução - Por um Pacifismo Militante, de Albert Einstein
João Barreto Leite
Mestrando em Filosofia na UFMG
10/06/2025 • Coluna ANPOF
O texto Para um pacifismo militante (Für einen militanten Pazifismus), publicado em 1931, foi escrito por Albert Einstein quando ele vivia em Berlim e acompanhava de perto a ascensão do nazismo em seu país natal, a Alemanha. Trata-se de um escrito relevante por evidenciar algumas das posições e formulações de Einstein sobre política e ética em um contexto extremamente conturbado para o mundo. A presente tradução foi feita diretamente a partir do original em língua alemã.
Einstein, um cientista de origem judaica, já era amplamente reconhecido por sua formulação da teoria da relatividade e por ter recebido o Prêmio Nobel de Física pela descoberta do efeito fotoelétrico. Por sua ascendência judaica, seu prestígio acadêmico e sua atuação pública nos círculos científicos alemães, enfrentava naquele período campanhas difamatórias crescentes. Dois anos após a publicação do texto, exilar-se-ia da Alemanha, pouco depois da chegada de Hitler ao poder.
O texto, escrito durante o processo que culminou na ascensão do nazismo, revela posições de Einstein que se contrapunham frontalmente a esse movimento que ganhava força no interior do Estado alemão. Ao longo do ensaio, Einstein defende a recusa ao serviço militar como um ato de "objeção de consciência" e uma posição ética fundamental. Ele também enfatiza a importância de um esforço coletivo para a formação de uma sociedade em que a paz seja um valor social central.
Além disso, Einstein apresenta críticas à ordem econômica mundial, argumentando que já há riqueza suficiente para que todos vivam com dignidade, e que uma parte considerável dessa riqueza e dos esforços coletivos está sendo desviada para fins militares, quando deveria estar voltada para a promoção da paz.
A Segunda Guerra Mundial eclodiria poucos anos depois, e a escrita de Einstein parece já antever os sinais de um grande conflito iminente. O fim dessa guerra completa oitenta anos em 2025, e esse breve escrito permanece atual — uma das grandes mentes do século XX reafirmando a necessidade da luta pela paz.
Por um Pacifismo Militante (Für einen militanten Pazifismus), de Albert Einstein (1931)
Haveria dinheiro suficiente, trabalho suficiente e comida suficiente se nós dividíssemos corretamente as riquezas do mundo, ao invés de nos tornarmos escravos de rígidas doutrinas econômicas e tradições. Acima de tudo, porém, não podemos permitir que nossos pensamentos e esforços de trabalho construtivo sejam impedidos e usurpados para a preparação de uma nova guerra. Eu sou da mesma opinião que o grande americano Benjamin Franklin que disse: “Nunca houve uma boa guerra e nunca houve uma paz ruim”.
Eu não sou só pacifista, eu sou um pacifista militante. Eu quero lutar pela paz. Nada abolirá as guerras, a não ser que as próprias pessoas recusem o serviço militar. Grandes ideais são primeiro combatidos por uma minoria agressiva. Não é melhor morrer por uma causa em que se acredita, como a paz, do que sofrer por uma causa em que não se acredita, como a guerra? Cada guerra adiciona um outro elo na corrente do mal, que impede o progresso da humanidade. Mas um punhado de objetores de consciência pode dramatizar todo o protesto contra a guerra.
As massas nunca são propensas a guerrear, enquanto elas não forem envenenadas com a propaganda. Nós precisamos imunizá-las contra a propaganda. Nós precisamos vacinar nossas crianças contra o militarismo, nós precisamos educá-las no espírito do pacifismo. O lamento com a Europa é que os povos foram educados com falsos fins. Nossos livros escolares glorificam a guerra e escondem suas atrocidades. Eles doutrinam as crianças a odiarem. Prefiro ensinar a paz ao invés do ódio, o amor ao invés da guerra.
Os livros escolares precisam ser escritos novamente. Em vez de manter conflitos e preconceitos antigos, um novo espírito precisa ocupar o sistema de ensino. Nossa educação começa no berço: as mães de todo o mundo têm a responsabilidade de criar suas crianças direcionando-as à manutenção da paz.
Não será possível, erradicar o instinto belicista em uma única geração. Não será desejável erradicá-la completamente. As pessoas precisam continuar a lutar, mas só pelo que vale lutar: E isso não são limites imaginários, preconceitos raciais ou desejos de enriquecer, que vestem a bandeira do patriotismo. Que nossas armas sejam armas do espírito, não blindados e balas.
Que mundo poderíamos construir se nós usássemos as forças, desencadeadas pela guerra, para essa construção? Um décimo da energia consumida pelas nações durante a guerra mundial, uma fração do dinheiro desperdiçado com granadas de mão e gás venenoso, seria suficiente para permitir que as pessoas de todos os países vivessem uma vida digna e para evitar a catástrofe do desemprego no mundo. Nós devemos nos comprometer em relação aos sacrifícios pela causa da paz da mesma forma que nos comprometemos sem resistência pela causa da guerra. Não há nada que me seja mais importante e que me toque mais o coração.
Além disso, o que eu faça ou diga não pode alterar a estrutura do universo. Mas talvez a minha voz possa servir a causas maiores: Harmonia entre as pessoas e paz na terra.
Referências
EINSTEIN, Albert; FREUD, Sigmund. Warum Krieg? Ein Briefwechsel. Zurique: Diogenes Verlag, 1996.
EINSTEIN, Albert. The Collected Papers of Albert Einstein. Volume 13: January 1922–March 1932. Princeton: Princeton University Press, 2019.
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