Uma pergunta para os filósofos: a Universidade do Estado da Bahia ainda pode ser chamada de Universidade?

Flávio Rocha de Deus

Mestrando em Filosofia (UFBA)

30/03/2021 • Coluna ANPOF

Para que serve a universidade? De acordo com o quinquagésimo segundo artigo da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional podemos dizer que ela existe para a formação dos quadros profissionais de nível superior. Porém, ainda sim, para além de preparar pessoas para cumprirem seus papeis técnicos na sociedade, este mesmo artigo, desta mesma lei ainda evoca nossa obrigação em promover o “domínio e cultivo do saber humano”. Devemos agora, portanto, nos perguntar: qual área torna tal domínio e cultivo humano possível? Sem dúvida, e consequente sem necessidade citar e explicar, a filosofia. Quais caminhos foram feitos para chegar a tal conclusão neste momento não se mostra fulcral, mas sempre pode ser discutido posteriormente. A pergunta que devemos nos fazer neste momento é: A UNEB, Universidade do Estado da Bahia – Campus I, lotada na Rua Silveira Martins da cidade de Salvador – BA pode, de fato, ser considerada uma universidade?

Uma vez já citei um curioso fato ocorrido em um dos eventos Departamento de Educação do campus da capital. Conta-se que após anunciarem “Finalmente temos um curso de Filosofia” para alguém do departamento, o interlocutor logo respondeu “De fato, agora podemos dizer que a universidade está completa, que é de fato uma universidade”. Todos aqueles que já correram alguns anos nesta existência chamada vida sabe que o mais difícil não é criar, mas manter as coisas que se cria. E que a manutenção das coisas está intimamente relacionada ao interesse e vontade daqueles que assumem a responsabilidade de tais manutenções. Se tal consideração estiver correta, há um enorme problema nesta instituição chamada UNEB que devemos nos atentar: o descaso dos responsáveis para com o seu curso de filosofia, que longe de ser medíocre, mantem seus altos padrões apesar das precariedades administrativas que nos assolam. Nossos alunos, seus eventos, nossas publicações e nosso cotidiano é a prova do valor de tal curso que demostra estar sendo positivo tanto nos índices de ensino, de pesquisa e de extensão. Tal cenário nos leva a nos perguntamos: o que mais precisamos mostrar de valor para que a universidade atenda a demanda de mais docentes para o desenvolvimento deste projeto?

Há muitos anos o centro acadêmico e o colegiado de filosofia desta instituição vem solicitando aos responsáveis que atendam a necessidade de concursos para seleção de novos professores. Até o momento tal desejo não foi realizado. Claramente entendemos que passamos por momentos difíceis e que a burocracia para tal não é a coisa mais simples de se realizar. Mas, como uma pessoa pensante devo perguntar: por que filosofia não consegue um único professor e o curso de medicina consegue dezenas? No início deste mês a dita universidade publicou com orgulho a necessidade e mais que a necessidade: a seleção, de 21 vagas para professores do curso de medicina.

O que o curso de medicina possui, neste país cujo todos são iguais perante a lei e a administração pública, que o curso de filosofia não possui? Vontade? Impossível! Se houvessem gravações da sala de reuniões do colegiado de filosofia isto seria uma das coisas que mais veríamos lá dentro. Necessidade? A mesma resposta para última pergunta também se aplica a esta questão. Poderá ser a falta de profissional especializado? Com certeza não. Como todos nós sabemos filosofia é uma das áreas com maior número de profissionais formados em programas de pós-graduação strictu senso. Será por ser mais barato e por haver uma preocupação com os gastos? A resposta é tão óbvia que nem precisamos nos esforçar a explicá-la. A resposta mais plausível: desinteresse, não pode passar pela minha mente, pois, apesar de me perguntar se a UNEB ainda é uma universidade, eu reconheço que esta é uma instituição de ensino superior com pessoas extremamente qualificadas para o desenvolvimento de suas funções. Então, acredito eu, que a única resposta plausível seja o desconhecimento de tal necessidade.

Sendo, portanto, desconhecimento a fonte de nosso problema, podemos crer que a cura para tal doença é a informação, então, eu, Flávio Rocha de Deus, acredito que informar tal problema em um veículo de notoriedade será o suficiente para o bom exercício dos responsáveis por tal lástima deprimente que é (assim prefiro acreditar) apenas um erro causado pelo não conhecimento da questão exposta. Claramente poderia ser explicado aqui o passo a passo para a realização de tal atividade, mas, como aluno, a função a qual me cabe é esta: informar o que é preciso.

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