ANPOF REPUDIA FALA OFENSIVA DO MINISTRO DA EDUCAÇÃO SOBRE A FORMAÇÃO EM FILOSOFIA

05/09/2019 • Notas e Comunicados

A Universidade Pública sempre exprimiu e ainda exprime o grande projeto de mudança sensível na estrutura social, tão logo ela cumpre sua função pública à população. O Ministro simplesmente desconhece ou insiste em ignorar uma frequente lógica de inserção social e geração de renda aos cofres públicos – incluindo aí União, Estados e Municípios –, cujo desdobramento e evolução ocorrem majoritariamente com a seguinte sequência: 1) os (as) estudantes da Filosofia vêm em sua maioria de famílias trabalhadoras e normalmente de baixa renda; 2) ingressam na Universidade Pública e muitos iniciam pesquisas de Iniciação Científica (Pibic) ou Iniciação à Docência (Pibid) com bolsa; 3) Em vários casos, esses estudantes repetem os programas Pibic ou Pibid por mais dois ou três anos, cujas bolsas são os únicos recursos que têm para sobrevier ao longo da Graduação; 4) ao se formarem e cumprindo a evolução da formação continuada, geralmente são aprovados em cursos de Mestrado, sendo igualmente financiados com bolsas de pós-graduação; 5) muitos defendem suas Dissertações e ingressam diretamente na Educação Básica, seja via contratos temporários, seja via concursos públicos nos Estados da Federação; 6) ao iniciarem suas atividades como professores, pagam impostos que são retidos na fonte aumentando a arrecadação nacional, financiam sua casa, eventualmente têm condições de pagarem um curso de língua estrangeira aos filhos, etc., fazendo o dinheiro circular na estrutura social e, consequentemente, aquecendo a economia por meio do consumo e geração de caixa via tributos ao Tesouro.

Esse não é um ciclo de exceção nas Ciências Humanas, e sim o processo usual do percurso de formação de um estudante de Universidade Pública e também Privada. O que o Ministro inaceitavelmente desconhece é que esse processo, em inúmeros casos, é capaz de iniciar o rompimento do ciclo da pobreza para muitos estudantes de Filosofia, processo igualmente extensível para todas as Licenciaturas que formam Professores da Educação Básica. Ao construir uma caricatura para justificar corte de gastos nas Ciências Humanas, o Ministro ignora não apenas a realidade da sua pasta ministerial e do ambiente universitário, como também mostra desconhecimento de premissas básicas de ciclos econômicos, tal como esse que mencionamos,e que é tão comum nas Universidades brasileiras e na vida dos nossos estudantes de Filosofia.

Ao invés do emprego da retórica vazia e das caricaturas carregadas de rancor e desrespeito, bem como no desejo de que o Ministro supere a ideia limitada que demonstra ter sobre o tipo de "retorno" gerado pela Filosofia e pelas Humanidades – visto que um projeto nacional de educação tem de ser pensado no longo prazo, incluindo aí não apenas o horizonte econômico, mas também uma sociedade livre de preconceitos, menos ignorante, mais desenvolvida e mais justa –, convidamos o Ministro a conhecer os inúmeros casos que exprimem esse ciclo básico de geração de renda para a economia nacional, oriundo não apenas da Filosofia, mas de todas as Ciências Humanas.