Carta aberta dos estudantes de Pós-Graduação em Filosofia (PPGFil) da UFSCar

27/05/2021 • Notas e Comunicados

Somos estudantes de pós-graduação em Filosofia da UFSCar. Viemos, através desta carta, manifestar nosso posicionamento diante dos cortes orçamentários da União para 202l, cujo impacto na Educação e na pesquisa no Brasil é flagrante. Essa atitude do governo Bolsonaro tem reacendido a necessidade do debate sobre irmos às ruas nos manifestar.

Atualmente, somos 26 alunes de mestrado e 41 de doutorado que pesquisam no departamento. Já nos últimos anos, cortes nas pesquisas em ciências humanas, as chamadas humanidades, vêm comprometendo a atribuição de bolsas aos pesquisadores. Efetivamente, nosso trabalho tem sido cada vez mais precarizado, chegando ao ponto de que muitos de nós já estamos trabalhando sem remuneração alguma!

Desde 2000 até hoje, foram defendidas 110 dissertações de mestrado e 114 teses de doutorado pelo nosso programa. Resultado que justifica a nota 5, sustentada pelo PPGFil da UFSCar, na CAPES. Nosso trabalho tem contribuído de forma incontestável, significativa e constante para o desenvolvimento da pesquisa em filosofia no Brasil, com reconhecimento internacional dos pares.

O descaso com a educação por parte do atual governo tomou atenção dos noticiários nas últimas semanas, principalmente no que diz respeito a UFSCar. No domingo (16/05) saiu no jornal Primeira página, a notícia de que a universidade sofreu uma redução no orçamento global projetado para este ano de 21%. Isso representa uma perda de aproximadamente R$9 milhões. O que, segundo a reitora, a Prof.ª Ana Beatriz Oliveira, acarreta o risco da universidade fechar em setembro, por não conseguir manter os serviços básicos de manutenção. Ainda, segundo a matéria:

“Caso não haja a revisão orçamentária serão interrompidos: 65 cursos de graduação (dos 4 campus), o que significa deixar de atender 14 mil alunos de graduação e 4.226 alunos nos programas de pós-graduação. No segmento de pesquisa, serão mais de 700 estudos que estão em atividade que podem ser impactados com a suspensão das atividades da universidade. ‘Só projetos que estudam a Covid-19 serão 250 pesquisas que correrão o risco de suspensão’.”

No sábado (15/05), foi publicado em vários jornais uma comunicação do MEC (Ministério da Educação) admitindo em documento enviado ao Ministério da Economia, que a verba destinada ao Enem de 2021 é insuficiente para aplicar a prova para todos os participantes. E, além disso, não haverá verba para o pagamento de 92 mil bolsas de pesquisa, incluindo pesquisadores da COVID-19, médicos residentes e compra de livros didáticos. Nas universidades federais, o ofício admite que, a partir de setembro, não haverá dinheiro para bolsas de permanência (recursos destinados a estudantes de baixa renda) no ensino superior. E afirma, que o "funcionamento geral" das universidades federais também pode ficar comprometido. As instituições falam em paralisar atividades em julho de 2021!

Não obstante, nesta terça-feira (25/05), a reitora Ana Beatriz veio novamente a se pronunciar em matéria publicada pelo G1 sobre a situação alarmante da UFSCar. De acordo com a publicação, mesmo se houver controle da pandemia ainda este ano, a universidade não terá recursos para voltar às atividades presenciais. Na declaração, o corte orçamentário é superior à média nacional quando comparada às outras instituições de ensino superior. De acordo com a notícia: “Os cortes, segundo a reitora, não afetam o pagamento de salários dos professores e servidores da universidade, que está atrelado a outros orçamentos, mas afetam o pagamento de bolsas estudantis”.

Uma vez compreendido que está ameaçada a permanência estudantil de inúmeros alunos da universidade e que o emprego de vários funcionários terceirizados corre riscos de serem extinguidos com os cortes, nos posicionamos a favor dessas categorias, apoiando-as em deliberações que venham a favorecê-las nessa luta comum. Acreditamos que um dos aspectos necessários de nossa formação na pós-graduação é nos formarmos também como educadores. Logo, é absolutamente indispensável destacar nosso total apoio à graduação do curso de Filosofia da UFSCar e ao Centro Acadêmico Bento Prado Jr (CABenP), em suas manifestações e em suas demandas imediatas e futuras por melhores condições de estudo, sendo que eles são a base do curso em que estamos inseridos e serão os mais afetados com os cortes dirigidos ao nosso departamento.

Tendo em vista este espectro que ronda a UFSCar, e não só ela, nós, estudantes da Pós-Graduação em Filosofia, apoiamos as manifestações que ocorrerão pelo país no dia 29/05, contra o sistemático genocídio causado pelo governo de Jair Messias Bolsonaro, contra o desmonte da democracia no Brasil, pelas vacinas e pelo desejo de viver. Acreditamos que as medidas sanitárias necessárias devem vir em primeiro lugar e respeitamos todes que queiram e precisem ficar em casa. Mas, na medida do impossível, iremos às ruas, pois, é imprescindível que isso seja feito pelo maior número de pessoas. De máscaras, álcool em gel e distanciamento.

São Carlos, 26 de maio de 2021.

Carta aberta dos estudantes de Pós-Graduação em Filosofia (PPGFil) da UFSCar